Então eu poderia contar o que eu aprendi, porque na
verdade aprendi muito, entendi que a vida é uma constante mudança, as coisas
mudam, pessoas mudam, tudo pode mudar. E por mais doloroso que possa ser, mudar
é bom. Porque mudando podemos aprender sobre nós mesmos e sobre os outros.
Percebi que durante muito tempo fui apenas juíza de mim
mesma, nunca minha advogada de defesa. Quem me defenderia de mim mesma, se não
eu? Eu sabia me ver sobre a visão dos outros, mas quando era pela minha, me
cobria de julgamentos e idealizações perfeccionistas. E Deus, como era difícil superar
minhas próprias idealizações. Sempre vi que OS OUTROS me viam como a
inteligente, estudiosa, responsável. E de tanto ser vista desta forma (não que
sejam pensamentos ruins, obviamente), eu entendia que isso era tudo que eu
tinha que ser, não podia fugir da linha. E pelo amor de Deus, ninguém é
perfeito sempre, e eu nunca seria, e me feri diversas vezes por querer ser
assim. Uma das graças de 2019, foi fazer terapia, e talvez depois algumas
sessões eu entendi um pouco que deveria me defender de mim mesma, porque não
importaria o quando os outros me amassem, se eu não ama-se a mim mesma.
Saudade, foi a palavra do meu ano, Oh céus, como senti
falta das pessoas, 2019 eu basicamente me mudei para cá, antes mesmo de me
mudar para cá, e meu primeiro hotel aqui foi um hospital. Soaria bonito, se eu
fosse um bebê, mas com 18 anos, tudo o que eu menos queria era estar no
hospital. Sentia falta de poder sair com meus amigos, sentia falta das risadas
nas minhas manhãs, senti falta das longas conversas sobre futuro ou serie,
sobre desenhos ou questões de física. Entendi que as melhores coisas da vida
não são momentos, lugares, nem comidas, são pessoas, são pessoas que marcam
momentos, lugares, comidas, perfumes, musicas, são pessoas que nos fazem
humanos. Viemos ao mundo para viver juntos, mas pela distância, ou pelo tempo,
nos afastamos um dos outros. Mas sabe, aprendi, repetidas vezes, que amigos, família,
não importa a distância, não importa as ocupações, mesmo que fiquem meses sem
se falar por não ter tempo, ainda assim, os verdadeiros, estarão aqui (mesmo o
aqui, sendo lá), para conversar, para perguntar se está tudo bem, para boas
risadas, para aconselhar e muito mais.
Aprendi sobre Deus, talvez mais do que em todos os anos
de igreja. Entendi que Deus não nos deixa, nós que as vezes deixamos eles. Eu o
deixei e ele cuidou de mim. Minha mãe costuma dizer que os médicos que me acompanham
são anjos que Deus pôs na minha vida, errada ela não ta né. Eu poderia ter
morrido, verdade seja dita, minha mãe achava que eu iria morrer, talvez no meu subconsciente
eu desejei morrer, porque eu não aguentava mais hospitais, agulhas, exames, remédios,
dores, remédios, e num ciclo vicioso essas coisas se repetiram, por seis longas
(na minha cabeça todas levaram uma vida) internações e por muitos meses. Mas
Deus cuidou de mim, em muitos detalhes que fariam esse texto virar um livro,
mas cuidou. Não posso dizer que esse ciclo não existe mais, mas pelo menos o
hospital saiu da lista. E mesmo odiando as internações, não poderia deixar de
mencionar, o quanto Deus me agraciou com enfermeiras maravilhosas, técnicos cuidados
e médicos dedicados. E para querem teria de fazer 6 aplicações de Ciclo, foram
apenas 3, e até onde meus exames dizem, os problemas foram sanados, para minha
felicidade, para a da minha mãe e família e a dos meus médicos.
No fim, posso dizer que foi um ano bom (amém terapia),
mesmo com todas as internações, todas as perdas, todas as crises (que foram
muitas), eu aprendi coisas de cada um desses problemas e talvez tenham levado muito
tempo para eu perceber isso, eu percebi. Eu aprendi a não me julgar tanto, a
ter empatia comigo mesma e entender meus limites e medos. Aprendi que amor
próprio é mais do que palavras bonitas de fora para dentro, é se entender e se
amar, entender que seu corpo é sua casa, e dar tempo a ela se recuperar, e
agradecer por existir. Aprendi que família e amigos sempre estarão aqui, e que
não é possível viver só, que se abrir faz bem, e as vezes faremos amigos onde
nem imaginamos (tipo um hospital). Aprendi que saudade doe, tanto quanto agulha
de anestesia, mas ela não rompe amizades. Aprendi que Deus sempre cuida de nós,
mesmo que sejamos irritantes e ingratos. Comecei a entender como aceitar a
vida, com suas mudanças e imperfeições, com as coisas boas e ruins. Não existe
perfeição, mas existe fazer o melhor daquilo que tivemos.
Espero do fundo do meu coração que esses aprendizados
durem por toda a minha vida, sei que ainda precisarei deles, e que venham
outros, se puderem vir através de bons momentos, não serei eu a rejeita-los.
Espero que 2020 venham com um pouco mais de calma, um
pouco mais de paz, um pouco mais de amor. Que sonhos se realizem, que não nos
cobremos tanto, que possamos matar toda a saudade acumulada, que reine paz e
que Deus nos abençoe.
Feliz 2020!